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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Fobias e Transtornos de pânico

     Um dos efeitos do medo é perturbar os sentidos e fazer com que as coisas não parecem o que são .” A frase é do autor espanhol Miguel  de Cervantes e esta no clássico Dom Quixote , escrito ao alvorecer do século XVII .Tomada de  empréstimo  de seu contexto , ela sintetiza o que ocorre com quem sofre de uma doença  que , longe de ser uma novidade na literatura medica , vem aparecendo com freqüência cada vez  maior em consultórios psiquiátricos e clinicas psicológicas .Trata-se do medo patológico. Ele se diferencia do medo normal por não ter causa objetiva ou base  na realidade e provocar uma aflição desmedida .O distúrbio pode apresentar-se como fobia especifica  ( pavor de animais , da escuridão , de água  etc  ) Fobia social ( da qual o horror de falar em publico é o exemplo mais popular ) e sob a forma de ataques de pânico , em que  o paciente passa a ser acometido de uma hora para outra de sintomas físicos terríveis , sem que saiba identificar exatamente o que o ameaça.Um estudo realizado em meados da década de 90 nos Estados Unidos mostra que 25% da população americana teve , ou terá em algum momento da vida , um episodio de fobia. No Brasil , como de praxe , não há números nacionais a respeito do assunto .As  estatísticas  estão restritas a grandes centros .mesmo assim os dados impressionam : o medo patológico , em suas diferentes formas e intensidades , afeta 18% dos habitantes de Brasília , 11% dos de São Paulo e 9% dos moradores de Porto Alegre.
   Fobias e transtornos de pânico estão relacionados em boa parte das vezes a quadros de ansiedade , angustia e depressão, verdadeiros flagelos da modernidade. Com a divulgação  de tratamentos de choque e surgimentos de medicamentos , um grande contingente de doentes agora se vê estimulado a procurar ajuda.Acrescente-se esses motivos o fato de que, não importa o universo pesquisado , tais distúrbios afetam duas vezes mais mulheres do que homens. Em suas manifestações mais agudas, as fobias e o pânico são altamente limitantes e quase sempre expõem a vexames de toda ordem. Há quem sue frio só de pensar em se sentar a direção de um carro. Imagine o que isso significa em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasilia, onde o transporte coletivo é uma ficção de horror e automóvel é quase um extensão corporal do cidadão de classe media. O pânico costuma ser mais incapacitante. Os sintomas são parecidos como o de um infarto, e, nesse instante, a morte iminente adquire os contornos de certeza.Depois da primeira crise, o calvário tem o seguinte script : faz se uma batelada de exames clínicos, o medico verifica que não há nada de errado e ainda assim as crises continuam. Um dos piores aspectos do pânico é o que os médicos chamam de “ medo de ter medo “. Apavorada com a idéia de voltar a sentir os sintomas , a pessoa passa a fugir dos ambientes em que os ataques ocorreram ,como se  tal atitude possam evitá-los. É por esta razão que tantas vitimas acabam se trancafiando em casa. Outros sintomas aparecem , em determinados momentos , pensamentos confusos se atropelam numa velocidade tamanha que muitos acham que estão ficando loucos. Qual seria a origem desses tipos de desordem mental que atingem milhões de pessoas mundo afora ? Nos Estados Unidos onde predomina a visão cientificista , os estudiosos  sempre tentaram delimitar com exatidão as áreas do cérebro responsáveis pelo medo. A idéia que os move é encontrar uma droga que atue sobre elas  e elimine distúrbios fóbicos e afins. Paralelamente, os americanos desenvolveram tratamentos derivados da Psicologia Comportamental, que vêm encontrando grande ressonância entre os médicos brasileiros. Na  Europa onde as correntes psicanalíticas tem mais força a abordagem do problema e privilegia a historia pessoal de cada paciente desse ponto de vista, o medo patológico é apenas a expressão  de uma angustia mais profunda. Não pode ser considerada uma doença em si.Os dois lados contabilizam conquistas e tropeços. Hoje se sabe que as amígdalas, estruturas cerebrais localizadas na região das têmporas, tem função de identificar situações de perigo e enviar ao hipotálamo , local de controle do metabolismo, o sinal para que certas reações seja deflagradas. As amígdalas reconhecem uma ameaça porque são alimentadas pelo sistema límbico, a parte mais primitiva do cérebro, que constitui um espécie de banco de memória do medo. É no sistema límbico que estão armazenadas as informações que remetem  a temores ancestrais, como os de animais ferozes, fogo ou escuridão. Além disso o sistema límbico registra dados que se referem a experiências em que o medo foi adquirido por aprendizado ou por trauma. De acordo com pesquisas recentes, os fóbicos apresentariam uma hiperatividade nesta região. Os pesquisadores agora se empenham  em afinar  a descoberta de que o sistema é regulado por duas substancias neurotransmissoras, a serotonina, e a noradrenalina que se relacionam ao humor e as sensações de prazer e ao bem estar.
Fonte : Revista Veja – fevereiro 2001